Jurema, Jorge, Joseph e o teatro

Teatro
Arte: editora de Histori-se.
Vamos ao teatro?

Jurema, Jorge, Joseph e o teatro

O que reúne Jurema Finamour, Jorge Bergoglio e Joseph Ratzinger?

  • As personalidades?
  • A influência sobre questões cruciais para a humanidade?
  • A reflexão sobre os problemas sociais e as transformações no mundo?
  • Os lugares que ocupam no teatro?

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A Mulher que Virou Bode

Jurema Finamour

A mulher que virou bode. Jurema Finamour.

Roteirizado a partir do livro de Christa Berger, Jurema Finamour – a jornalista silenciada, a peça teatral A mulher que virou bode contou com a atuação brilhante das atrizes Deliane Souza, Eulália Figueiredo, Iandra Cattani, Luiza Waichel e Sofhia Lovison sob a direção primorosa de Marcelo Bulgarelli.

O drama surge ante os olhos do público sob a forma de canções – uma releitura produtiva, bela, de amor ao feminino e de questionamentos a uma sociedade misógina.

Quatro atrizes se revezam e interpretam a protagonista.
Figurinos orientam o público em relação às cenas em que a jornalista ganha figura e voz.

As dúvidas da jovem, as atitudes ousadas para sua época, a publicação da Revista Magazine Mulher, as reportagens com figuras importantes em sua época – Fidel Castro, por exemplo –, o mea culpa ao descobrir o homem Pablo Neruda sob a capa do poeta, os assédios sofridos: paulatinamente a vida da mulher e jornalista é descortinada à plateia, tanto devido aos êxitos e percalços vividos quanto à intensidade que atrizes e canções colocam em cena.

Há momentos em que os espectadores são salvos da violência e da emoção por declarações de Christa Berger, a autora que recuperou a figura de Jurema Finamour em uma biografia muito bem documentada.

Nessas declarações, projetadas em tela ao fundo do palco, Berger narra momentos ou comenta sensações que a jornalista deixa transparecer nos livros que publicou, como em Vais bem, Fidel, Pablo e Dom Pablo e A mulher que virou bode, por exemplo.
O olhar da pesquisadora traz à encenação tanto a admiração pela persona histórica quanto a criticidade de quem a resgata.

O espetáculo apresenta um cenário simples, com peças em formato de caixas, ou cubos.

As atrizes os movem e rearranjam conforme a necessidade cênica. Algumas vezes, para deixar ver um corpo nu de mulher cujo rosto está oculto por uma máscara, a do bode, – cenas contundentes pela fragilidade do corpo e o ocultamento da cabeça.
Esse corpo e essa máscara funcionam como denúncia e reafirmação da protagonista.
Ao fim da encenação, a protagonista aparece, sim, com uma máscara de bode ornada em cores de rosa choque: mais eloquente do que um discurso.

Bem, e como se encaixam, aqui, Bergoglio e Ratzinger?

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Dois Papas

Claro, o cenário de Dois Papas também traz ao palco grandes caixas cujo objetivo é dispor e guardar elementos necessários às diversas cenas.

E vemos a projeção da série que circulou na Alemanha, Rex, de um jogo de futebol, assim como das apresentações aos fiéis dos recém-eleitos Papas Bento e Francisco.

            Na peça teatral baseada no texto do neozelandês Anthony MacCarten, o protagonismo de homens que não desejam – segundo afirmam – o peso de chefe da Igreja Católica aparece como trama que une a história dos dois sacerdotes.

Joseph Ratzinger quer dedicar-se a estudos e pesquisas.
Decide renunciar ao cargo de Papa.

Jorge Bergoglio, já cardeal, deseja se aposentar, mas, para isso, precisa que Bento XVI assine sua solicitação.

O Papa, porém, tem a certeza de que Bergoglio será eleito o próximo Sumo Pontífice, motivo pelo qual deve mantê-lo cardeal.

            O debate de ideias entre os dois religiosos entrega ao público homens com medos, falhas e uma tremenda capacidade de servir, embora de modo distinto um do outro.

Dos gostos e costumes que surgem na conversa entre o Papa Bento XVI com irmã Brigitta e entre o Cardeal Bergoglio e irmã Sofia ao encontro entre os dois pastores do rebanho católico, o espetáculo tece os conflitos entre os dogmas e o mundo contemporâneo, entre as religiões cristãs e outras expressões de fé, entre estudo e pesquisa, entre comunicação e liderança.

            Sob a batuta de Munir Kanaan, os atores Celso Frateschi, Cardeal Bergoglio, e Zécarlos Machado, Papa Bento XVI, e as atrizes Carol Godoy, a jovem Irmã Sofia, e Eliana Guttman, uma já idosa Irmã Brigitta, os diálogos alternam chistes e piadas a reflexões sobre a fé e dramáticos momentos em que os homens fazem, cada um, seu mea culpa.

No conjunto, o espectador reconhece o comum e o imperfeito dos Santos Papas, aproximando-se daqueles líderes religiosos.

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            Nos espetáculos, Jurema Finamour, Jorge Bergoglio e Joseph Ratzinger chegam a nós como mulher e homens que pensaram o mundo em que viveram, ousaram colocar em ação aquilo em que acreditavam, erraram, acertaram, deixaram um importante legado ao século XXI, tanto em exemplos de vida quanto em palavras.

A opção por peças teatrais que tragam à plateia personae dessa estatura é mais uma demonstração da relevância da cena teatral em nosso país.

Essa cena nos retira do comum e corriqueiro e nos leva a olhar a vida – a nossa mesma vida – com olhos novos, olhos de estranhamento.

Desse modo, podemos – ou não – ressignificar o mundo em que vivemos. E o teatro, uma vez mais, cumpre seu papel sagrado.

A  autora

Vera Haas , a autora, é uma das mulheres do sul do país.
Vera Haas

Notas:

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